Aqui é um espaço para crescermos juntos

Nada é por acaso! Tudo tem um propósito um plano. Vamos descobrir juntos. Falaremos de assuntos variados mas edificantes. Não tenho a pretensão de ensinar a não ser a de aprender, conhecer um pouco mais a cada dia.Creio que a vida tem muito a nos ensinar e viajaremos juntos nesse emocionante mundo da internet que nos tem permitido viver uma grande metanoia constante.( Metanóia é uma palavra de origem grega (μετάνοια , metanoia) e significa arrependimento, conversão (tanto espiritual, bem como intelectual), mudança de direção e mudança de mente; mudança de atitudes, temperamentos; caráter trabalhado e evoluído.) Beijos e bençãos .

sábado, 16 de julho de 2011

Tributo a Airton Senna ( Essa eu não poderia deixar de postar)

Domingo de manhã. Dia importante, importantíssimo. Acordava cedo, apesar de poder dormir até mais tarde. E eu gostava de dormir... mas acordava mesmo assim, e nem ficava de mau humor como durante a semana.
Tomava café rápido. Em seguida, buscava a coberta no quarto e ia pra “salinha da bagunça”, o quarto da casa que, desocupado, virou sala de TV. Almofadas jogadas no tapete, o sofá que, apesar de duro, era super aconchegante.
“E aí, Elisa, tá pronta?”, perguntava meu pai, com empolgação na voz. “Estou!”, engolindo a torrada. “Está nada, senta aí e come devagar, minina!”, minha mãe, que apesar de também gostar do programa, não atropelava o cotidiano por conta dele, ao contrário da menina que fui.
Torrada engolida às pressas, leite derramado no pijama por ter corrido com a caneca na mão, sentava ao lado do pai no sofá. “Vamos lá, gente!” “Ele vai ganhar de novo, pai?” “Tomara né! Vai passar todo mundo...” “...no S do Senna!!” “Aeee...”
Estava em polvorosa antes mesmo que a corrida começasse. Achava tudo aquilo lindo, lindo de morrer: as bandeiras, os apitos, o vrum, vrum dos carros. Mas o som preferido, que gostava mesmo de ouvir era o “Zuiimm”, seguido do “Pan, pan pan... pan, pan, pan...”. Era emocionante!
“Alá...vai começar!” “Manhêee....vai começar....vem logo, o farol tá amarelo já!” Minha mãe largava as louças da cozinha e sentava conosco no sofá. A corrida começava, seguida de gritos. “Noss’inhora, vamo gente, acelera aí!”
No começo, a sala ficava silenciosa. O mesmo de sempre: carros correndo, acelerando, tentando se aproximar da primeira fila. Voltas e voltas sem emoção. Até que eu achava uma cabeça amarelinha no meio daquelas máquinas todas. “Alá...alá ele lá, pai! Achei, gente! Achei o Senna aqui, ói! Aqui ó!” Eu vi, Elisa, senta que eu já vi!”
Eu não sentava. Dali em diante, como todos os domingos, passaria os próximos 50 minutos, no mínimo, em pé, diante da TV. “Vai, vai, acelera!”
O volume das vozes aumentavam quando Ayrton se preparava para ultrapassar alguém. “Vixe, é agora! Vamo, corta ele... na direita, na direita...ii, num deu! Peraí, ele vai entrar na curva...vai, vai... do outro lado...isso... vai.....aeeee!!” Zuiimm, e meu herói despachava mais um pra trás, enquanto eu acompanhava meu pai narrando as imagens da TV, dando ordens técnicas ao nosso piloto preferido. “Sabe o que ele devia fazer? Abastecer! É, porque aí, quando a gasolina dos outros acabarem, ele tem um monte!” “Verdade né...Senna, para lá e abastece!” E eu acreditava que ele me ouvia.
Também não era sem motivos. Lembro-me bem de uma vez em que ele estava na frente, mas sendo arduamente perseguido por dois carros. Dançava na pista tentando fechar espaços para a ultrapassagem dos outros. Lembro-me que, na minha ingenuidade infantil, pensei “Preciso ajudar ele!”. Fiquei em pé e repetia, aos berros, a fala do comentarista. “Ó, Senna, cuidado viu, tem dois aí...ele vai entrar do seu lado, fecha, fecha...isso...ai... ó o outro, ai, tá chegaaaaanuu...corre...fecha...ansim...mais prá lá ó...isso....aee...vixe, tem ôtro...fecha....a curva, fecha a curva...aeee.....boa, eles num vão conseguí, podexá....”. Quando a corrida acabou, entrei na cozinha pulando de alegria. “Manhê...conseguimo....eu ajudei ele...conseguimo...” “O que, minina?” “Eu e o Senna, a gente ganhô deles!”
O mais impressionante é que, ágil, Senna fechava as brechas e bailava diante dos oponentes, de forma que eu jurava que ele me ouvia e fazia as manobras de acordo com o que eu dissesse. Acreditava, de verdade, que minha torcida fazia diferença.
“Elisa, vem lavar seu prato!” “Ah mãe...” “Vai lá, filha, num vai acontecer nada agora!” Fui. Resmungando, e querendo fazer tudo rápido pra voltar logo. Vai que o Senna precisasse de umas dicas...
Estava tirando o sabão da caneca quando ouvi. “Não!!” Meu pai deu um grito assustador na sala. “Que foi, amor?” “Ele bateu!”
“Tá vendo...” – pensei - “Eu não tava lá pra avisar ele...”. Corri pra sala. Meu pai, em pé, olhava pra TV. “Que foi pai?” “Alá...ele bateu no muro!” “Nossa...”
Sentamos os três no sofá, olhos vidrados na tela. Creio que nem piscávamos, tamanha era a apreensão. “E ele tava indo bem... pior que agora, além de perder o carro, vai perder ponto também!” “Pai... por que ele num saiu?” “O quê?” “Ele num sai do carro, pai...alá...” Silêncio.
E eu me lembrei que meu herói era meu amigo e me ouvia. “Sai daí, Senna...levanta! Sai do carro, Senna, sai do carro...num é possível...” Sentada, apertando o travesseirinho no colo, com um nó no peito, vi carros de apoio se aproximarem, ambulância, a corrida foi parada. “Pai, vão tirar ele de lá?” “Peraí, filha...”.
A voz do narrador foi ficando apertada e vazia, assim como estava nossos corações. “Ah não...”, foi tudo o que meu pai disse, colocando as mãos na cabeça. “Que foi pai?... Cadê o Senna...por que ele não sai de lá?” “Ah não, filha...” “Que foi?” “Acho que ele morreu...”
Ficamos ali, em pé. A sensação é que se todo mundo ficasse na sala faríamos, por mágica, alguma coisa acontecer, e sem ninguém esperar, veríamos a cabeça amarelinha sair do carro, acenando pra gente. Ele não saiu.
Depois daquele domingo, os domingos ficaram sem graça. E eu tentava não ouvir a musiquinha pra não 
chorar. Dali em diante, nunca mais assisti, com gosto, uma corrida de fórmula um. E meu herói morreu

Foto do Airnton Senna via Internet
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Com carinho beijos e bençãos

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