Em 1946, Lewis foi agraciado com o doutorado honorário em divindades, pela Universidade de St. Andrews, em Edimburgo, na Escócia. Em 1949, pregou seu famoso sermão Peso de Glória, posteriormente publicado num livro com outros de seus sermões.
Lewis foi premiado com o doutorado honorário em letras em 1952, pela Universidade de Lavai, em Quebec, Canadá. Em setembro, ele conheceu aquela que seria sua futura esposa, Joy Davidman. Em junho de 1954, Lewis aceitou a cadeira de professor titular de literatura medieval e renascentista em Cambridge. Também fez uma resenha, que foi publicada num jornal inglês, da famosa obra O senhor dos anéis, de seu amigo J. R. R. Tolkien. Lewis assumiu seus deveres em Cambridge, em janeiro de 1955. Durante os anos em que ele esteve em Cambridge, dava aulas no Magdalene College durante a semana e passava os fins de semana e férias em Oxford.
Em 1956, Lewis recebeu a medalha Carnegie, como uma homenagem a toda a série Crônicas de Nárnia, a famosa saga de conto de fadas com fundo cristão em sete livros. Nessa série, Lewis atinge o máximo de sua criatividade. Algumas das principais doutrinas da fé cristã, como a redenção (em O Leão, a feiticeira e o guarda-roupa, de 1950), a Criação (em Os anéis mágicos, de 1955) e o retorno triunfante de Cristo (em A última batalha, de 1956), são apresentadas para crianças, tendo como cenário um ambiente tipicamente medieval. As Crônicas de Nárnia são consideradas uma das melhores publicações contemporâneas para crianças. Inspirado pela ficção científica de H. G. Wells, Lewis resolveu produzir uma visão alternativa do cosmos. Para além do planeta silencioso (1938), Perelandra (1942) e Aquela força medonha (1945) exibem um quadro colorido e concreto de outros mundos, encantados por uma rica variedade de criaturas sensitivas racionais, morais e estéticas, afirmando a realidade do mal e a vitória final de Deus. Lewis apela para a imaginação, por considerar que as doutrinas cristãs são absolutamente verdadeiras, mas tão elevadas que não possam ser conhecidas apenas racionalmente. Aí a imaginação entra em cena, para auxiliar-nos a vislumbrar as realidades transcendentes.
Lewis se casou no civil com Joy Davidman em 23 de abril de 1956, com a finalidade de conferir a ela a cidadania britânica, para prevenir a ameaça de deportação através das autoridades britânicas de imigração. Ela era americana, mãe de dois filhos — Douglas e David — e estava em processo de divórcio. Houston disse:
Por ter se beneficiado muito com os livros de C. S. Lewis, ela atravessou o Atlântico e alugou uma casa próxima de onde ele morava. Ela queria ser ajudada em sua fé por Lewis. Porém, o serviço secreto britânico descobriu que Joy havia sido membro do partido comunista americano e não lhe renovou o visto. [Então,] eles elaboraram o esquema mais maluco que se pode imaginar para que ela permanecesse na Inglaterra. Lewis lhe disse: "Caso-me com você, para você ter o visto, mas será só um contrato civil, e não passa disso. Você vive na sua casa e eu na minha. E não conte isso a ninguém".
Só que a descoberta de que Joy estava com câncer mudou toda a situação. Em março de 1957, um matrimônio ao lado da cama onde ela estava hospitalizada por causa do câncer foi realizado por um antigo aluno, o reverendo Peter Bide, conforme os ritos da igreja da Inglaterra, no Hospital de Wingfield. Tudo levava a crer que a morte de Joy era iminente, mas durante o ano ela experimentou uma recuperação exrraordinária. Em julho de 1958, Lewis e Joy realizaram uma viagem de lua-de-mel para a Irlanda e Gales, durante dez dias. Em 19 e 20 de agosto, ele gravou dez fitas de palestras sobre Os quatro amores (publicado em 1960), em Londres. Em 1959, Lewis foi agraciado com o doutorado honorário em literatura, pela Universidade de Manchester.
|
Holy Trinity Church |
Mas, durante uma série de exames de rotina, foi constatado que o câncer de Joy havia retornado. Seguiram-se mais orações, mais lágrimas e mais dor. Joy e Lewis resolveram ir para a Grécia, ficando lá de 3 a 14 de abril de 1960, visitando, entre outros lugares, Atenas. Joy morreu em 13 de julho, em Oxford, com 45 anos, três meses depois do retorno deles da Grécia. Lewis escreveu: "Ao longo desses poucos anos [minha esposa] e eu tivemos um banquete de amor; todo o tipo dele... nenhuma brecha do coração ou do corpo ficou insatisfeita". Pouco antes de morrer, Joy disse para Lewis: "Você me fez feliz". E então: "Eu estou em paz com Deus".
Após o funeral, Lewis disse para o seu irmão: "Meu coração e corpo estão clamando, volte, volte... mas eu sei que isso é impossível. Eu sei que a coisa que eu mais quero é exatamente a coisa que eu nunca posso adquirir. A velha vida, as piadas, os debates, o amor...". Deus, que fora tão íntimo e sustentador, agora parecia tê-lo abandonado. Lewis estava frustrado e zangado. Chamou Deus de "sádico cósmico" e duvidou de tudo em que já tinha crido sobre ele.
|
Sepultura de C. S. Lewis |
Então, em certa manhã, Lewis acordou e constatou que toda a tristeza e dúvida passaram. No meio de sua dor e confusão, ele descobriu: "Você não pode ver direito se seus olhos estão marejados de lágrimas".
Lewis morreu numa sexta-feira, 22 de novembro de 1963, às 5h30 da tarde, com 64 anos. Ele tinha deixado sua função em Cambridge durante o verão e foi sepultado num campo atrás da Igreja da Santa Trindade, em Headington Quarry, Oxford. Uma lápide simples marca a sepultura, que seria compartilhada com seu irmão, Warnie, que faleceu em 9 de abril de 1973. Está enfeitada por uma singela cruz, e pelas palavras "Os homens têm de suportar a sua partida".
|
C. S. Lewis, Huxley, Kennedy |
Ele morreu no mesmo dia em que faleceram o presidente dos Estados Unidos, John E Kennedy, e o filósofo Aldous Huxley, e, como notou Peter Kreeft, esses três homens representaram as três filosofias mais importantes da história: o antigo cristianismo clássico, conhecido como "cristianismo puro e simples" (Lewis), o moderno humanismo ocidental (Kennedy) e o antigo panteísmo oriental (Huxley).
Um cristão para todos os cristãos
Lewis era muito modesto em relação à vida devocional. Ele gostava de dizer: "Não sou como os místicos, aqueles que sobem a montanha para orar. Sou alguém que está no sopé da montanha. Eu não estou muito alto, nem lá embaixo. Vivo no meio da montanha, como um cristão normal". Lewis achava que a submissão à vontade de Deus é mais importante do que fazer grandes façanhas na oração. Ele aconselhava: "Não seja dramático em sua vida de oração". Ele meditava e orava ao redor do parque, depois de dar suas aulas na universidade. Também delineou a força de atração do que chamava de "doce desejo e alegria", a saber, o sabor da presença de Deus na vida diária, que atinge o coração como se fosse um golpe, quando a pessoa experimenta e desfruta das coisas, revelando-se, em última análise, com um anelo não satisfeito por quaisquer realidades ou relacionamentos criados, mas amenizado somente na entrega de si mesmo, no amor do Criador, em Cristo.
Conforme Lewis sabia, diferentes estímulos disparam esse desejo em diferentes pessoas. Quanto a si mesmo ele falava sobre "o cheiro de uma fogueira, o sonido de patos selvagens que passam voando baixo, o título de The Well at the World's End, as linhas iniciais de Kubla Khan, as teias de aranha de fim de verão, o ruído das ondas na praia". Ao lado de diversos escritores do passado, que tinham um discernimento muito mais profundo sobre essas questões que as pessoas de hoje, Lewis via o amor a Deus nos elevando até Deus, enquanto o contemplamos e o desejamos por Ele, em lugar de arrastar Deus para baixo, em nosso nível, como muiros hoje em dia tendem a fazer.
James Houston, que conviveu com Lewis de 1947 a 1952, re¬gistrou a impressão que tinha sobte ele:
Gostava muito de estar num ambiente onde havia controvérsia e discussão. Era tão perspicaz e cheio de humor que nos deixava receosos de nos aproximar dele. Mas, na verdade, Lewis era muito tímido e discreto com sua própria vida emocional. [Ele] tinha um par de sapatos marrom, uma calça de veludo marrom e uma jaqueta marrom que usou por uns quinze anos. A jaqueta estava sempre amarrotada na altura do colarinho.
Ele era um cristão praticante, que orava, paciente e persistentemente, fazendo o bem. Não era um teólogo profissional, mas era, em suas palavras, "apenas um cristão comum, tentando pensar com clareza", que buscava evitar as disputas entre as diferentes igrejas, por crer que Deus o colocara na linha de frente, onde o cristianismo enfrenta o mundo, e não por trás delas, onde uma guerra civil assola os cristãos. Sua tarefa era a de defender o cristianismo puro e simples, e não qualquer igreja em particular, demonstrando a superioridade racional do cristianismo sobre todo e qualquer entendimento da realidade.
Segundo Russell Shedd:
A originalidade de seu pensamento, o incomparável progresso de sua lógica e a criatividade de suas idéias são como um banquete posto para famintos. E difícil menosprezar esse gigante das letras, mesmo quando não temos a capacidade de captar todas as nuanças da ampla compreensão que ele tinha do cristianismo. [Mas] é possível sentir a paixão de um coração voltado para Deus e preocupado com a transmissão das boas-novas de salvação. Ele talentosamente comunica-se com homens que em parte rejeitaram o evangelho por causa da simplicidade de evangelistas faltos de profundidade.
Franklin Ferreira( adaptado)
Beijos e bençãos , espero que vocês gostem!